É um improviso nesse desconhecido porque eu não sei onde eu vou e elas vão me chamando como se elas pudessem dizer: “toca aqui..., pisa ali” e caminha por esse lugar, embora não vai saber onde vai e eu perco a noção do tempo completamente. Eu sinceramente não sei por quanto tempo levou, talvez possa ter levado quinze minutos ou duas horas, mas é uma sensação de ser levada pelas pedras e também por esse destino, não é?
Como algo que me puxa e um certo momento toda aquela agua anterior da queda quando eu estava num primeiro platô, no primeiro momento, vai silenciando porque eu vou chegando em num outro ambiente que é mais da mata então eu saio de um primeiro lugar de água doce e chego nesse lugar que é mais arborizado, muito verde...e muitos cheiros e quando entro nessa água que é uma outra água, vamos dizer, é uma coisa parecida com um banho de ervas.
Porque, em fim, com tudo o verde, com todas essas plantas essa água tem uma outra qualidade e vai silenciando de tal maneira que eu chego numa outra pedra muito maior do que as outras que eu estava caminhando e seu sinto de silenciar ali. Eu fico um bom tempo ali em silêncio ouvindo o som do silêncio, de verdade, assim um silêncio muito primordial e eu canto, algo totalmente imprevisível assim para mim porque eu não canto, mas é um som praticamente que vem das pedras ou que vem desse fora, desse silêncio.
Em fim, é um som muito novo para mim, talvez para minha qualidade vocal e ali eu começo a cantar e é muito forte e ha uma dança que acontece e então esse canto se torna movimento, sei lá, como uma coreografia a partir da voz e aí é uma conexão muito bonita e silenciosa e também como se eu pudesse perceber o quanto que eu estou acompanhada, mesmo que estando extremamente, radicalmente sozinha na perspectiva humana.
Eu percebo como eu sou pequena naquela dimensão e como talvez possa estar reencontrando muitas outras vidas ali, talvez ancestrais, talvez de outros planos que estão me acompanhando e essa dança acontece, é encima dessa grande pedra e eu fico ali também com essa dimensão do tempo que, em fim, se perde um pouco e aí eu não quero voltar, então continuo indo, sendo chamada pelas pedras, continuando a conhecer esse caminho das pedras e eu sigo esse caminho até que eu chego em num certo fim que não sou eu que determino, mas o fim se da porque não tem como continuar caminhando e ai quando eu volto é praticamente como se, sei lá, eu morasse lá, não sei explicar isso, mas eu continuo voltando, então, por esse caminho das pedras, e talvez essas pedras que agora já reconhecidas e vou retornando para onde eu estava, passo por aquele platô, por aquela grande pedra onde aconteceu essa dança e aconteceu esse canto, e é como se eu, em fim, já tivesse algum tipo de familiaridade com aquele desconhecido e quando chego de novo nessa água, nessa primeira água que eu falei no início, que é uma água mais calma, mais tranquila, hahaha, em fim agora está chegando em outras pedras aqui.
Quando chego nessa outra água também o sol vai se pondo na verdade e eu vou percebendo uma outra dimensão também do sol, assim de calor que..., o seja, talvez eu tivesse passado por todos os elementos, não sei. Agora estou pensando nisso, que eu comecei por um elemento mais da água e depois foi me conectando mais com o elemento da terra e aí depois com o sol que pode ser o fogo e o vento ali talvez através da comunicação que estava ventando comigo e chego nesse fim que é uma continuação, mas gosto dessa experiência de não saber muito bem para onde eu estava indo e de ser chamada por aquilo que é esse caminho das pedras e que é uma expressão trivial que nem “puxar o mal pela raiz” que é uma outra expressão brasileira, como quando você não quer uma coisa muito boa e você tem que cortar ela lá na raiz e a gente fala isso muitas vezes, “puxar o mal pela raiz”, só que quando você de fato tem um jardim ou tem um quintal ou tem uma horta, você de fato precisa puxar o mal pela raiz quando você precisa tirar o mato por exemplo, entendeu? Então são expressões que a gente fala trivialmente, mas que quando você não vive pelo corpo você não percebe de onde ela vem, e aí quando você vive o caminho das pedras ou “puxar o mal pela raiz” no corpo você entende corporalmente porque é que você fala aqui, ela ganha um outro sentido incorporado, em fim, corporificado.